terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ataque Beliz, uma nova poesia




Bocada - Forte ::: Entrevistas



O grupo Ataque Beliz que já possui uma vasta caminhada dentro do Rap, ficou conhecido e teve uma grande repercussão no ano de 2009. Formado por Allison, Anderson, Higo e DJ Gus ou em forma musical Mulumba Tráfica, Higo Melo, Benjamim e DJ Gus, foram um dos destaques do cenário Brasiliense e Nacional do último ano. A participação e a conquista do primeiro lugar na etapa nacional do concurso RPB Festival (Rap Popular Brasileiro) renderam ao grupo oportunidades e crescimento na música Brasileira. Recentemente, o grupo foi premiado pelo Blog Singelo como melhor clipe de 2009 com o vídeo da faixa "A Poesia". Feito com uma mistura de ritmos e essências que passam pelo Jazz, Soul, Blues, Bossa Nova, Embolada, Cordel e outros estilos, o Ataque Beliz segue na caminhada desde o ano de 2001, trazendo uma típica mudança no cenário sem perder a essência do Hip-Hop.




A inconfundível sonoridade do grupo atrai diversos públicos que variam do Rap ao Rock e MPB, dentre jovens e adolescentes de periferia ou não a aceitação musical do grupo está sendo bem recebida por onde passa. Atualmente lançaram o primeiro CD "REConceito", título que nasceu da necessidade de rever conceitos em relação ao Rap e ao Hip-Hop como um estilo de vida. Confira essa troca de idéias que o portal Central Hip-Hop/BF teve com o grupo. O Ataque começou!






Central Hip-Hop (CHH): O que mudou para o grupo desde sua primeira apresentação em 30 de maio de 2001?
Ataque Beliz (AB): Aqui é DF né... A má recepção tinha que acontecer. Tivemos que nos tornar independente até do próprio Rap daqui. Mas isso nos instigou a tentar o mais diferente (daqui) possível. Aconteceu um processo de evolução mesmo na falta de recursos para produzir nossas músicas e fazer gravações. Colocamos na mente que precisávamos deixar de depender dos outros. Tomando partido da independência para montar nosso home-studio, produzir e fazer um trampo com a nossa cara.

CHH: O que falta para o Rap ser recebido por outros públicos?
AB: Falta ser feito e veiculado para outros públicos. Enquanto a gente só faz Rap pra quem gosta, só teremos esse público. Estamos tentando fazer diferente, e aos poucos está dando certo.

CHH: O que seria a essência do Rap para o grupo?
AB: Possibilidades. O Rap é o estilo musical que pode misturar todo tipo de som. Todo tipo de poesia e tema... Pra quem quer fazer Ritmos e Poesias o Rap é um mar de possibilidades.

CHH: Como foi esse despontamento em 2009 do grupo? Ganhar o festival RPB e se apresentar no palco da última edição do prêmio Hutuz.
AB: Esse ano foi muito produtivo pro Ataque. Gravamos nosso primeiro clipe, totalmente independente e de baixíssimo custo. Usamos, mais uma vez, câmera fotográfica e editamos. Isso reflete o que é nossa filosofia desde o inicio: Independência.

O Hutúz ja faz parte da história do Rap brasileiro. O RPB ainda dará visibilidade pra muitos outros talentos. Ja tinhamos carreira fora do DF, mas depois de ganhar o festival conseguimos ampliar nossos trabalhos. Participamos do inicio de um ciclo, que é o RPB, e do fim de outro ciclo de uma década que foi o Hutúz. Sentimos o peso da responsabilidade, mas tocar no Canecão nos abriu várias portas. Entre elas o apoio da marca Rei de Copas (Rio de Janeiro) e patrocínio da Jonny Size (grife de Vinicius Falcão e Marcelo Falcão, vocalista d´O Rappa), que é no momento uma grande parceria.

CHH: O nome "Ataque Beliz" surgiu de onde? Qual seu significado?
AB: Essa estória começa a com a palavra “az” que é uma sub-divisão de esquadrão. Resolvemos fazer dela uma sigla, e como não encontramos nenhuma palavra legal que começasse com “z” achamos outra que termina com “z”. Beliz significa sagaz, astuto... Aprendemos a nos defender, ao longo da história, de vários tipos de opressão, Mas não se constroi apenas se defendendo. Ser beliz é saber se posicionar na batalha diária. Ser beliz é ser astuto, sagaz. É aprender que o conhecimento liberta, e que só depois de estarmos livres poderemos atacar. Atingir nossos objetivos. Seja na luta social ou racial conseguir deixar isso virar arte. Virar ritmos. Virar poesias... Sobre o mundo em que vivemos... Sobre o mundo que queremos. Fazer de nossa arte um Ataque Beliz é nossa meta.

CHH: Quais os projetos futuros do grupo?
AB: Até o final de 2009 lançaremos o CD Reconceito, que está na prensa. Estamos reestruturando nosso show. Já fazemos um formato em que alem de cantarmos também tocamos. Estamos aperfeiçoando-o. Temos mais um projeto de videoclipe e um documentário. Lançaremos em 2010, além do segundo disco (isso mesmo já estamos preparando!) os trabalhos solos: Fábrica de Jazz Mulumba (Alisson Melo), Reflexão Visual Benjamim (AndersonMaya) e Mosaicultura Higo (Higo Melo). O fato de termos personalidades e filosofias muito particulares misturam nosso publico. O Ataque Beliz é essa multifilosofia artística. Os trabalho solos destrincham essas personalidades e filosofias, mas não significa o fim da banda.

CHH: Nos últimos meses, tem se percebido um aumento significativo nos eventos de Rap em Brasília. Como é a cena atual no DF? Falta algo a ser melhorado?
AB: O tipo de evento de Rap que tem aumentado é o mesmo de sempre (maioria). Pouca estrutura, muito grupo, pouca remuneração pouco tratamento profissional por parte dos produtores... Acha que falta algo a ser melhorado? (risos). Algumas exceções são bem-vindas, como os trabalhos de alguns guerreiros e guerreiras e da CUFA nos estados, que têm sido bem profissionais.

CHH: O grupo utiliza a guitarra como um instrumento primário nas suas produções. Na opinião do grupo, existe alguma limitação na utilização de instrumentos pro Rap?
AB: Escolhemos os instrumentos de acordo com o timbre e nossa capacidade de tocá-los ao vivo. Cada musica/letra “pede” um tipo de instrumento. A gente tenta fazer o que a musica pede, a única dificuldade é de estrutura para execução do formato original. A maioria dos eventos de Rap não dispõe dessa estrutura, como bateria, amplificadores para baixo e guitarra... Isso só empobrece o Rap e poda a criatividade dos grupos.

CHH: O grupo tem um grande currículo musical que é constituído por trabalhos dentro e fora do Brasil. As influências musicais se devem também a vivência e ao trabalho com a música no exterior?
AB: Ter na banda um DJ ex-guitarrista de uma banda de carreira internacional, alem de enriquecer o currículo, também nos ajudou na troca de experiências sobre outros seguimentos da musica e influenciou nosso amadurecimento profissional. Isso influenciou, inclusive ao vivo, na pegada de uma de nossas músicas mais conhecidas que é “O Giz e o Fuzil”.

CHH: A mistura dos ritmos que o grupo faz com a MPB, Jazz, Soul entre outros, é algo que hoje instiga o público a conhecer e repensar antes de subordinar a sigla Rap?
AB: O próprio publico do Rap tradicional pergunta: Isso é Rap? A gente insiste em dizer que sim. Levamos muito a sério nossas influencias. Quando fazemos Rap é sempre RapSoul, FunkRap, JazzRap... Sempre tentamos um meio termo. Fica mais “musical”. Isso tem sido nosso trunfo e esperamos estar prestando um bom serviço ao Rap brasileiro.

CHH: Espaço aberto, agradecimentos, críticas.
AB: Parabéns e boa sorte aos que fazem do Rap uma coisa nova a cada dia. O Hip-Hop agradece (espero...). Obrigado ao Bocada Forte pela força dada também a nós.

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